sexta-feira, 26 de julho de 2013

PORQUE AS CRIANÇAS FRANCESAS NÃO TEM DEFICIT DE ATENÇÃO ?

PORQUE AS CRIANÇAS FRANCESAS NÃO TEM DEFICIT DE ATENÇÃO ?


05/16/2013  

Marilyn Wedge, Ph.D
EQ 2-ilu

Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram
 diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com 
Hiperatividade), e estão sendo tratadas com medicamentos. Na França, a 
percentagem de crianças diagnosticadas e medicadas para o TDAH é inferior a 
0,5%. Como é que a epidemia de TDAH, que tornou-se firmemente
 estabelecida nos Estados Unidos, foi quase completamente desconsiderada 
com relação a crianças na França?
TDAH é um transtorno biológico-neurológico? Surpreendentemente, a resposta
 a esta pergunta depende do fato de você morar na França ou nos Estados 
Unidos. Nos Estados Unidos, os psiquiatras pediátricos consideram o TDAH 
como um distúrbio biológico, com causas biológicas. O tratamento de escolha 
também é biológico – medicamentos estimulantes psíquicos, tais como Ritalina
 e Adderall.
Os psiquiatras infantis franceses, por outro lado, vêem o TDAH como uma 
condição médica que tem causas psico-sociais e situacionais. Em vez de tratar 
os problemas de concentração e de comportamento com drogas, os médicos
 franceses preferem avaliar o problema subjacente que está causando o 
sofrimento da criança; não o cérebro da criança, mas o contexto social da
 criança. Eles, então, optam por tratar o problema do contexto social 
subjacente com psicoterapia ou aconselhamento familiar. Esta é uma maneira 
muito diferente de ver as coisas, comparada à tendência americana de atribuir 
todos os sintomas de uma disfunção biológica a um desequilíbrio químico no 
cérebro da criança.
Os psiquiatras infantis franceses não usam o mesmo sistema de classificação 
de problemas emocionais infantis utilizado pelos psiquiatras americanos. Eles
 não usam oDiagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou DSM. De
 acordo com o sociólogo Manuel Vallee, a Federação Francesa de Psiquiatria
 desenvolveu um sistema de classificação alternativa, como uma resistência à
 influência do DSM-3. Esta alternativa foi a CFTMEA (Classification Française 
des Troubles Mentaux de L’Enfant et de L’Adolescent), lançado pela primeira 
vez em 1983, e atualizado em 1988 e 2000. O foco do CFTMEA está em 
identificar e tratar as causas psicossociais subjacentes aos sintomas das 
crianças, e não em encontrar os melhores bandaids farmacológicos para 
mascarar os sintomas.
Na medida em que os médicos franceses são bem sucedidos em encontrar e
 reparar o que estava errado no contexto social da criança, menos crianças se 
enquadram no diagnóstico de TDAH. Além disso, a definição de TDAH não é tão
 ampla quanto no sistema americano, que na minha opinião, tende a 
“patologizar” muito do que seria um comportamento normal da infância. O DSM 
não considera causas subjacentes. Dessa forma, leva os médicos a 
diagnosticarem como TDAH um número muito maior de crianças sintomáticas, e
 também os incentiva a tratar as crianças com produtos farmacêuticos.
A abordagem psico-social holística francesa também permite considerar causas
 nutricionais para sintomas do TDAH, especificamente o fato de o 
comportamento de algumas crianças se agravar após a ingestão de alimentos
 com corantes, certos conservantes, e / ou alérgenos. Os médicos que 
trabalham com crianças com problemas, para não mencionar os pais de muitas 
crianças com TDAH, estão bem conscientes de que as intervenções dietéticas 
às vezes podem ajudar. Nos Estados Unidos, o foco estrito no tratamento 
farmacológico do TDAH, no entanto, incentiva os médicos a ignorarem a 
influência dos fatores dietéticos sobre o comportamento das crianças.
E depois, claro, há muitas diferentes filosofias de educação infantil nos Estados
 Unidos e na França. Estas filosofias divergentes poderiam explicar por que as 
crianças francesas são geralmente mais bem comportadas do que as 
americanas. Pamela Druckerman destaca os estilos parentais divergentes em 
seu recente livro, Bringing up Bébé. Acredito que suas idéias são relevantes 
para a discussão, por que o número de crianças francesas diagnosticadas com
 TDAH, em nada parecem com os números que estamos vendo nos Estados 
Unidos.
A partir do momento que seus filhos nascem, os pais franceses oferecem um
 firme cadre- que significa “matriz” ou “estrutura”. Não é permitido, por 
exemplo, que as crianças tomem um lanche quando quiserem. As refeições são
 em quatro momentos específicos do dia. Crianças francesas aprendem a 
esperar pacientemente pelas refeições, em vez de comer salgadinhos, sempre
 que lhes apetecer. Os bebês franceses também se adequam aos limites 
estabelecidos pelos pais. Pais franceses deixam seus bebês chorando se não
 dormirem durante a noite, com a idade de quatro meses.
Os pais franceses, destaca Druckerman, amam seus filhos tanto quanto os pais
 americanos. Eles os levam às aulas de piano, à prática esportiva, e os 
incentivam a tirar o máximo de seus talentos. Mas os pais franceses têm uma
 filosofia diferente de disciplina. Limites aplicados de forma coerente, na visão 
francesa, fazem as crianças se sentirem seguras e protegidas. Limites claros,
 eles acreditam, fazem a criança se sentir mais feliz e mais segura, algo que é 
congruente com a minha própria experiência, como terapeuta e como mãe. 
Finalmente, os pais franceses acreditam que ouvir a palavra “não” resgata as
 crianças da “tirania de seus próprios desejos”. E a palmada, quando usada 
criteriosamente, não é considerada abuso na França.
Como terapeuta que trabalha com as crianças, faz todo o sentido para mim que
 as crianças francesas não precisem de medicamentos para controlar o seu 
comportamento, porque aprendem o auto-controle no início de suas vidas. As 
crianças crescem em famílias em que as regras são bem compreendidas, e a
 hierarquia familiar é clara e firme. Em famílias francesas, como descreve 
Druckerman, os pais estão firmemente no comando de seus filhos, enquanto
 que no estilo de família americana, a situação é muitas vezes o inverso.

Texto original em Psychology Today

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