segunda-feira, 25 de maio de 2009

O LIVRO ( sem nome ) - SEGUNDA PARTE/CONTINUAÇÃO 09

O LIVRO ( sem nome ) -

SEGUNDA PARTE

/CONTINUAÇÃO 09



- Na manhã seguinte, logo após o café, nos encontramos no embarcadouro do hotel. Teríamos que ir até um igarapé, encontrar uma determinada árvore. E lá desfazer o trabalho. Saímos de lancha, e em uma certa altura do Rio Negro paramos em um desses lugares que os índios moram e fazem artesanato. Lá, embarcamos em um bote, pois iríamos entrar em igarapé e era época de vazante. Foi uma delicia de passeio por entre a mata fechada. Pude observar a grandeza da nossa flora e fauna. Tive o privilégio de acariciar a flor de uma vitória regia. Foi lindo, e não menos lindo poder estar junto da maior árvore que acredito tenha na mata Amazônica. Era nessa árvore onde o senhor João iria quebrar a magia que haviam feito.



- Em uma árvore? O que tinha ela de especial?



- Tudo. Não sei explicar por desconhecer o assunto. Mas todos que trabalham como o senhor João trabalhava, conhecem a árvore. Era vazante como te disse. E parte da raiz podia ser vista. E em toda ela, haviam as marcas daqueles que tinham recorrido ao “dono” .



- Ao dono? Mais de que dono você está falando?



- E eu sei lá. O senhor João disse que havia um “dono” e para mim foi o bastante. Não é um dono qualquer, um dono humano. É outro tipo de dono. E foi lá que ele fez a entrega.



- Entrega? Que entrega?



- Bem, primeiro ele ficou falando em uma língua que eu não entendi. Depois, circulamos a árvore em toda a sua extensão com a canoa. E haja extensão. Sem exagero, não poderiam dez homens abraçar tal árvore. Não...dez é pouco. O senhor João desceu do bote equilibrando-se nas raízes da árvore. Eu quis fazer o mesmo mas ele não permitiu. Tirou então de dentro de uma bolsa pequena que trazia preza na cintura um pó preto e colocou entre as raízes.



- Pólvora certamente, diz Lúcia.



- Pode ser. Não entendo nada de pólvora, mas quando ele colocou fogo no pó, deu-se então uma tremenda explosão : BUMM. Não havia fogo, mas muita fumaça. A água do rio agitou-se, balançou o bote, e me molhou toda. Os pássaros saíram voando e gritando. E no minuto seguinte tudo se acalmou. Muito silêncio e muita paz. O senhor João olhou para mim e disse: - Está feito filha, podemos voltar.

E voltamos para o hotel.



- E ai, chegando no hotel, você perguntou tudo.



- Mas perguntar o que criatura? Perguntar o que eu tinha visto? O que eu questionei ainda no barco é porque eu não pude descer na raiz da árvore. Eu gostaria muito de ter tocado nela. Ele respondeu : - Você ainda não está pronta para isso minha filha. Tem que plantar suas raízes primeiro.



- Plantar suas raízes? O que ele quis dizer com isso?



- Foi o que perguntei e ele disse : - Você deve plantar uma árvore neste solo. Em qualquer lugar, e da espécie da sua escolha.



- E você plantou? Plantar uma árvore no meio da floresta Amazônica é bem fácil.



- É sim. Mas eu é que sou complicada. Eu queria plantar uma árvore que teria minhas raízes lá naquele solo em um lugar onde não fosse passível de ser derrubada. Desmatamento para usar a madeira e também para abrir estrada, por lá é que não faltava. E infelizmente não faltam ainda. E depois, eu queria ver a minha árvore crescer e para tanto não podia ser em lugar de difícil acesso.



- E como resolveu a questão?



- Foi fácil. Chegando no hotel pedi para falar com o administrador. Ao ser atendida expliquei o que queria fazer, e pedi permissão para plantar a árvore no jardim do hotel. Naquele tempo eu era muito conhecida por lá pois o Cezar não agüentava o frio do inverno de São Paulo e passávamos tanto tempo quanto nos era permitido por conta de meu trabalho e da escola dos meninos, em Manaus e naquele hotel. E por este fato, foi-me autorizado. Plantei uma linda muda de Pau Brasil e tive oportunidade de vê-la crescer. Quem sabe um dia possamos ir juntas para Manaus, e vou te mostrar “a minha árvore” nos jardins do Tropical Manaus.



- Ôba! Que os anjos digam amém. E todo este trabalho do senhor João, quanto te custou?



- Foi a pergunta que fiz para ele e a resposta foi: - Nada! Não cobro para fazer caridade. “Eles” me dão o que necessito?



- Como assim?



- Isso criança. Foi assim mesmo que perguntei. “Como assim?” E ele respondeu : Três ou quatro vezes ao ano venho para cá onde existem cassinos. E vou jogar. Nas mesas de jogo sempre encontraremos pessoas envolvidas com energias negativas. Sei lidar com elas, e as uso. Ganho o que necessito e vou embora. Volto quando preciso novamente.



- Credo!! Será mesmo isso possível?



- Pois o meu “querer ver para crer” entrou em ação. Pedi para acompanhá-lo e ele disse : - Junto comigo não! Mas poderá estar no mesmo espaço. Te dou o endereço e horário com o compromisso de você não jogar. Aceitei o acordo e fui vê-lo jogar, e ganhar muito. Ganhar muito mesmo Lúcia. E de lá para cá, mesmo tendo tido oportunidade de estar em outros cassinos, mesmo assim não jogo a dinheiro pois sei que ao fazê-lo quem eu não quero estará grudado em mim. E depois, sou inteligente o bastante para saber que “outros” senhor João podem estar lá para me fazerem de boba.



- Mas bem que você gosta de jogar tranca. Já vi você fazer isso e muito.



- Ah querida, gosto mesmo. Tranca, canastra, piff, pôquer...gosto mesmo. Mas sempre para brincar, passar tempo, e com amigos. Por falar nisso, bem que poderíamos dar uma pausa e jogar um pouquinho. Topas? Depois continuamos com meus relatos.



- Delicia. Vamos nessa mimosa.

Nenhum comentário: