quarta-feira, 13 de maio de 2009

O LIVRO ( sem nome ) - SEGUNDA PARTE CONTINUAÇÃO 01

SEGUNDA PARTE

Continuação 1





- Então você queria um marido rico! disse Lúcia rindo.



- Querida, vamos deixar de lado a demagogia. Esta é a hora da verdade. Pensa assim também, por favor. Existem certos conceitos que ultrapassaram o tempo. Naquela época, como na tua época, como nos dias atuais, qual é o conselho que recebemos de nossos pais? Será que é procurarmos um companheiro cuja maior qualidade é que seja espiritualizado? Aquele que irá nos respeitar, nos amar independente das marcas que o Tempo deixará? Responda para mim Lúcia, quando você falava : tem uma pessoa interessada em mim, qual é a pergunta que teus pais te faziam em primeiro? Tuas amigas? Qual era a pergunta?



- Pensando bem, sempre as mesmas : Ele é rico? Qual a marca do carro dele?



- Ainda hoje é assim, não é verdade? Falo de regra, não de exceções.



- É verdade. Ainda hoje é assim.



- E outros requisitos eram e muitos ainda são solicitados:

Ter beleza, Ter altura maior que da mulher, Ter cultura, Ter um bom emprego ou possibilidade de Ter para garantia de futuro, Ter inteligência, etc.etc.etc.



- É um tal de ter que fico pensando como se deve sentir o homem que não tem tudo isso.



- Devedor. Em um relacionamento onde o Ter sobrepuja o Ser, o homem sempre se sentirá menos, um devedor.



- Porque você fala o homem?



- Lá vem você novamente com demagogia menina. Reconheça que é a mulher que escolhe. É a mulher que conquista. Dentro de nossas limitações, que todas nós sabemos quais são, escolhemos. Queremos aquele homem e deixamos ele pensar que nos conquistou.



- Você acha que é sempre assim que acontece?



- Não disse sempre, disse regra. Claro que exceções existem, mas apenas para confirmar a regra. E é nessa linha de escolha que começam as complicações. A primeira delas, e para mim a mais importante, é o juramento que fazemos ao nos casarmos. Não importa o rito, sempre juramos. E nos sentimos prisioneiros deste juramento. Deixamos de Ser para cumprirmos o Ter feito este juramento. Perdemos ai a noção primeira de quem realmente somos, pois o que nos diferencia e nos faz Ser uma Centelha Divina, é o Livre Arbítrio.



- Você está querendo dizer então que não devemos nos ater ao juramento que fazemos ao nos casarmos?



- Menina, ao escolhermos, ai tanto faz o homem ou a mulher, fazemos a escolha sempre pelo Ter. Dizemos amar alguém porque este alguém TEM cara bonita, TEM corpo bem feito, TEM futuro promissor, TEM um bom papo, dança bem, é requisitado socialmente, todas as minhas amigas/os me invejam, e por ai vai. Juntamos todos estes atributos e declaramos alto e bom som : eu amo. Depois, dizemos que somos infelizes, que a pessoa não correspondeu nossas expectativas, que nos sentimos sozinhas ainda que com alguém no nosso lado...entramos em depressão. E o pior, culpamos o outro. Não seria mais lógico, mais honesto, mais verdadeiro, se reconhecêssemos que o erro foi nosso? E nos perdoarmos desse erro e livrarmos o outro dessa amarra, pois creia menina, o outro se sente igualmente traído pela Vida.



- Hum mimosa, mas ai é difícil. É difícil reconhecermos que erramos.



- Não será difícil se nos reconhecermos como Ser. Nada mais dígno do que encararmos uma verdade ainda que dolorida, pois a manipulação de uma mentira nos levará certamente ao abismo da infelicidade.



- Então não acha ser pecado quebrarmos o juramento que fizemos ao nos casarmos?



- Pecado? Esquece que estamos aqui para aprender e crescer? Errar não é pecado e nem mesmo existe um Deus malvado que está somente esperando um erro teu para te punir. Se te servir de parâmetro disse o Mestre Jesus : Somente a Verdade te libertará.



- Volto a te fazer a pergunta que já fiz : Você procurou então um marido rico?



- Não querida menina. Nenhum homem poderá dizer que colocou pão na minha mesa ou de meus filhos.



- Nem mesmo o pai deles?



- Nem mesmo ele. Sempre trabalhei para meu sustento e dos filhos que eu quis ter.



- E o que te levou a escolher ele para casar, uma vez que você diz que somos nós as mulheres que escolhemos?



- Não vou negar que o Ter em alguns tópicos influenciou minha escolha. Não tinha eu nenhuma expectativa de encontrar o Mário. E mesmo que o encontrasse, mesmo assim, tínhamos uma barreira que eu acreditava piamente ser intransponível.



- Qual seria ela?



- Conceitos pré estabelecidos : o homem sempre tinha que ser mais velho que a mulher. E se você fizer as contas, Mário é dez anos ou um pouco mais não sei, mais novo do que eu.



- Ainda hoje é assim. É difícil mesmo com a liberação feminina, ser aceito um relacionamento onde o homem é mais novo.



- É o Ter novamente em ação. Esquecemos que o Ser pode ser eons de tempos mais velho.



- Então me diz Walkyria, quais os Ter que determinaram a tua escolha?



- O Amor que eu tenho dentro de mim. Este foi o determinante de eu ter me casado. Queria ter filhos, e dedicar à eles todo este Amor, na expectativa de suprir a ausência do Mário em meu viver. O homem que seria o pai desses filhos, teria que Ter caráter, Ter inteligência, Ter beleza física. Essas eram as qualidades que geneticamente eu queria e consegui passar para meus filhos. Meus três filhos são lindos, inteligentes e possuem caráter ilibado.



- Quer dizer então que o Maia tinha todos os predicados. Não o conheci, mas conheço teus filhos, e posso atestar esta tua verdade.



- E mais ainda. Maia era meu amigo. Meu companheiro e confidente. Em nenhum momento fiz um juramento mentiroso. Eu o amei e respeitei como o Amigo que sempre foi e sempre será.



- Então é por isso que você nunca se sentiu traída como mulher. Essa era uma questão que eu não conseguia entender.



- Sim, Maia não traiu a mulher. O amor que tinha e tenho por ele ainda é o amor de Amigo. E posso te dizer mais. É este amor que ele também tinha por mim. O verdadeiro e único Amor do Maia foi uma noiva que teve e que o deixou. Eu sabia disso, ele sabia do Mário, e como Amigos, resolvemos formar uma família, baseada na amizade e cumplicidade.



- Então, porque não deu certo?



- Menina, tudo e todos nessa Vida passa. Somente não passa, somente permanece o Amor Real. Chegou um momento em que ele teve que optar entre Ser ou Ter. E optou pelo Ter.

Apenas isso. Nada mais do que isso.

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